Vãs repetições
Sonho do casal se torna realidade
“MILLENNIALS DE DEUS”
Conhecedora dos desafios à sua fé, juventude cristã do século 21 quer influenciar o mundo
Carlos Fernandes
Aos 21 anos de idade, sendo 14 de convertida ao Evangelho, a estudante Anna Beatriz Farias Maio conhece seus objetivos. “É um tempo de mudanças. Cada vez mais jovens assumem uma postura de compromisso e envolvimento com Deus. Queremos influenciar o mundo”, afirma. Para ela, seguir Jesus requer firmeza. “Envolve deixar nosso individualismo de lado, entendendo que nossa vida não nos pertence.” Ouvi-la assim, tão nova, demonstrando tamanha convicção derruba certos preconceitos acerca da juventude cristã do século 21. Muitos consideram essa moçada superficial, acreditando que os mais novos não hesitam em trocar um culto pela praia ou a leitura bíblica pela balada. Contudo, a nova geração de evangélicos, hoje na faixa dos 18 aos 25 anos, prova que é possível conciliar a fé em Deus com a vida social e as metas pessoais. São os “millennials de Deus”.
Determinada, Anna Beatriz se dedica aos estudos – sonha fazer Medicina –, mas se esforça para estar sempre na Igreja Internacional da Graça de Deus em Manaus (AM), onde participa do grupo Jovens que Vencem (JQV) e do ministério de dança, além de auxiliar a pastora da juventude. Ela administra bem essas tarefas. “Às vezes, saio com o pessoal da Igreja para me distrair um pouco”, brinca. Porém, a seriedade marca seu comportamento quando o assunto é integridade com Cristo. “O perigo das práticas mundanas tem aumentado, pois elas oferecem uma visão atrativa. É difícil termos jovens propagando o Evangelho, pois temem as críticas. É mais fácil se calar perante os erros.”
Cercados por um oceano de estímulos e oportunidades, a juventude cristã precisa viver e atuar em ambientes diversificados – da escola à academia, passando pela família, pelo trabalho, pela vizinhança e igreja. Em meio à globalização, que demanda empenho na busca de sucesso profissional, é decisivo fazer as escolhas certas. “Vivemos em um mundo no qual 90% do nosso tempo é baseado no secular, mas não precisamos ser influenciados pelo que nos rodeia”, aponta a auxiliar de enfermagem, Edilene Barbosa de Brito, 36 anos, líder do JQV na Igreja da Graça em Vitória (ES). Ela cita 1 Coríntios 10.23 como texto básico para quem está nessa fase: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.
Edilene se esforça para crescer com seu público. Segundo ela, amizades cristãs e intimidade com Deus fazem a diferença. “Essa juventude tem seus valores, perspectivas, vontade de crescer, conquistar e ter um bom futuro, conforme buscam a direção divina.” A líder sabe que, para o jovem, o culto é uma parte importante da vida espiritual, mas é preciso mais. Por isso, Edilene desenvolve reuniões e dinâmicas cuja prioridade é criar um elo que permita conhecer mais o Senhor e fazer Sua vontade – sem deixar de lado o evangelismo. “Nossa motivação é o retorno que temos com o crescimento espiritual de cada um”, salienta. “Infelizmente, alguns jovens não se abrem para um verdadeiro encontro com Deus. Pensam que estão servindo a Deus, mas desejam voltar às práticas antigas.”
CONSCIENTIZAÇÃO
Músico e obreiro na casa do Senhor, o estudante Davi Salles dos Santos integra o grupo coordenado por Edilene e não se enquadra no perfil que ela critica: “Falta aos jovens renunciar a si mesmo e entender o sacrifício de Jesus em prol da humanidade”, analisa o rapaz. Criado na IIGD, ele busca suas experiências na fé. Para Davi, o segredo é ter a mente de Cristo e agir conforme a Palavra, o que envolve compromisso. De acordo com ele, muitos estão nas igrejas, mas não querem responsabilidades. Isso se torna agudo diante dos debates trazidos pela pós-modernidade. “A flexibilidade de valores, as questões de gênero e as pressões pela liberalização das drogas e do aborto nos desafiam”, avalia.
As “pautas progressistas” preocupam também o Pr. Orestes Lima dos Santos, de São Luís (MA). Naquele município, ele coordena as atividades da mocidade no templo sede da IIGD onde congregam cerca de 400 rapazes e moças. “Em algumas ocasiões, tivemos casos que precisaram de maior atenção, devido a problemas estruturais de família. Os jovens necessitam de orientação.” Por isso, Orestes trabalha com esses assuntos, que, diariamente, são destacados pela mídia com uma noção de tolerância misturada à conivência: “Geralmente, nossa juventude está bem consciente de que tais reivindicações não têm valor para a proposta idealizada por Deus.” Ele ressalta que, nos cultos e eventos voltados para esse nicho, as mensagens envolvem o amadurecimento e a conscientização acerca dos interesses cristãos. “Mediante a Palavra e a oração, nossa juventude se salva do esfriamento espiritual”, afirma. A contadora, Thaynã de Oliveira Anunciação, auxiliar dos Jovens que Vencem na Igreja da Graça em Manaus, pensa de forma semelhante: “Peço direção a Deus ao comentar assuntos divergentes e, ao mesmo tempo, busco fundamento na Palavra.” Para Thaynã, todo jovem se espelha em alguém – artistas, influenciadores, entre outros. “Isso impacta suas convicções e seus comportamentos, levando-o a se conformar com o pecado e a frieza espiritual.”
“FORÇA E CAPACIDADE”
Dizendo-se fruto do ministério jovem, a Pra. Carla Sena Pontes trabalha com esse segmento desde os 15 anos. Hoje, aos 38, ela continua confiando nesse público: “Eles têm força e capacidade para ir além, pois são determinados e focados. Como diamantes, precisam ser lapidados e discipulados”. Embora reconheça que vivemos uma era de facilidades e agilidade, a pastora tem se deparado com moças e moços fervorosos. “Esta é a nossa luta: mostrar aos jovens que o Reino de Deus é tomado por esforço”, diz, referindo-se ao texto de Mateus 11, versículo 12.
Os dirigentes da mocidade da IIGD concordam: essa é uma atividade recompensadora, principalmente para quem ainda é jovem. “É edificante, afinal os futuros pastores, obreiros e líderes surgem nessa faixa etária”, explica o Pr. Wanderson Araújo Silva, de 28 anos, à frente desse ministério na IIGD em Tocantins há uma década. É o caso da estudante de enfermagem, Ana Clara Pisk, da IIGD no Maranhão. Aos 21 anos, ela acumula várias funções no Corpo de Cristo: “Integro o JQV e o Quarto Rosa. Além disso, sou ‘tia’ da escolinha e ministra de louvor do Mulheres que Vencem”, enumera. Ela frequenta a Igreja desde pequena e dá a “fórmula” para permanecer em Cristo: “Como diz a Bíblia, devemos ensinar a criança no caminho em que deve andar, e, quando crescer, ela não se desviará dele. Logo, o discipulado e o ensinamento precisam ser agregados desde cedo na trajetória do indivíduo”. Simpática, Ana Clara sabe que a seriedade com os assuntos espirituais é fundamental: “Precisamos decidir de que lado estamos. Se professo a fé em Jesus, devo agir como tal”, resume.